segunda-feira, setembro 09, 2013

Como vai o ensino básico em Timor Leste - sinais de subdesenvolvimento

Fernando António anda todos os dias 10 quilómetros a pé para dar aulas em Timor-Leste


Por Isabel Marisa Serafim (Texto) e António Amaral (Fotos), da agência Lusa

Díli, 27 jul (Lusa) - Fernando António diz que só sabe ser professor e por isso anda todos os dias cerca de 10 quilómetros a pé para dar aulas na escola de Loro, a aldeia mais pobre do suco de Suai Loro.
"Não há luz, água potável, casa de banho e também não há estrada para a nossa escola", diz à agência Lusa Fernando António, que vive em Suai Loro, perto do Suai, a cerca de 175 quilómetros a sudoeste de Díli.
O professor Fernando António até podia utilizar uma motorizada para chegar à escola, mas a ponte que existia para passar uma ribeira e onde até conseguiam passar carros, caiu com a força da água provocada pela época de chuvas e agora só conseguem passar pessoas.
"Com chuva demoro 50 minutos, com sol apenas 30", explica.
Apesar do esforço diário para chegar ao trabalho e de ganhar apenas 247 dólares mensais, nem a chuva, nem os "crocodilos que às vezes ficam à espera das pessoas na praia" o demovem de ir para o trabalho todos os dias.
"Para mim gosto. É o meu trabalho. Foi com esta profissão que sustentei os meus filhos e filhas. Gosto muito de ensinar os alunos e alunas. Ensinar é uma experiência para nós", diz.
O professor tem cinco filhos e dois estão em Díli a estudar na universidade.
Na aldeia onde dá aulas vive outra filha, com os netos, que também ajuda com o pouco que ganha, porque o genro vive da pesca e da agricultura, que ao "pé do mar é fraca, porque a terra não é boa".
Fernando António gostava de ter uma escola melhor, mas o que considerou serem prioridades urgentes são as "cadeiras, as mesas, os quadros, os armários para guardar livros" e outro material, como lápis, canetas e cadernos.
"Os alunos são pobres e não podem comprar", afirma.
Na escola de Loro estudam 100 crianças divididas por três salas e dão aulas mais duas professoras.
Segundo Fernando António, que leciona há 32 anos, às vezes é difícil ter todos os alunos na sala.
"Os pais não mandam as crianças à escola e às vezes quando aqui chego sou eu que os vou buscar a aldeia", diz, sublinhando que os pais não percebem a importância das crianças irem à escola, porque também não sabem ler e escrever.
"É gente pobre", desabafa, acrescentando que às vezes a única refeição que as crianças comem por dia é a que é fornecida na escola, normalmente arroz com legumes.
Apesar das dificuldades, faça sol ou chuva, Fernando António não falta à escola e todos os dias caminha os cinco quilómetros a pé para cada lado para os alunos aprenderem a ler e a escrever.
MSE // VM
Lusa/Fim

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