domingo, novembro 28, 2010

À procura de níscaros (míscaros)


As saudades que tenho de apanhar níscaros, termo que usamos em Possacos para nos referirmos aos cogumelos selvagens (míscaros como diz o dicionário) e na impossibilidade de estar mais uma vez presente neste época na aldeia, pedi à minha irmã que me escrevesse um texto, directamente do local onde os níscaros devem ser apanhados.


"À procura de níscaros. Quando menos se espera…

Sábado à tarde. Outono. Dia de sol. Condições favoráveis para procurar níscaros por essas matas fora. Como tal, não éramos os únicos. Decidimos ir mais para a frente e estacionamos o carro. Começamos a caminhar. Debaixo dos nosso pés não havia agulhas dos pinheiros, nem musgo verde e húmido. Por onde passávamos, as mãos ficavam com um rasto negro do fogo. Tinha havido um incêndio no Verão, pelo que não havia vestígios de níscaros, nem venenosos! Caminhámos mais um pouco mas o horizonte não verdejava.

Pegamos no carro e fomos para outra zona. Caminhámos e por onde passávamos víamos
vestígios de quem já lá tinha estado antes de nós. A terra remexida, o musgo levantado, níscaros venenosos arrancados… enfim, continuámos a subir rochas, a desviar giestas, a vasculhar o musgo e nada de “pinheiras”, ou “moncosos”, ou “amarelinhos”. Já cansados de procurar e sem nada encontrar, caminhávamos para regressarmos a casa. Mas eis que entre o verde do monte e a humidade que dele emana, vimos ao longe pequenos pontos vermelhos suspensos. Eram meródios (medronhos). Corremos até eles e saboreamos o seu sabor agridoce. Mas na ânsia e chegar àquele que estava na ponta do ramo, este cedeu e quebrou. Olhamos um para o outro como cúmplices de um crime. Escavámos então uma cova na terra e depositamos lá o que no futuro será uma àrvore de meródios (assim o esperamos). Fomo-nos encaminhando rumo ao carro e quando menos esperávamos aparece uma pinheira, e atrás desta outra e outra. Não deu para enchermos o balde, mas serviu para que não voltássemos a casa de mãos a abanar e comermos o fruto da nossa procura."

Por Márcia Esteves

Sem comentários:

Enviar um comentário